sábado, 15 de março de 2014

As sutilezas do preconceito

Provavelmente, do mesmo modo que o leitor, também considero essa história do politicamente correto “um porre”. Por causa dela, muitas vezes, acaba-se “perdendo a piada”, a graça do momento. Porém, a violência em nossa sociedade está em patamar tão elevado que, preocupado, me leva a escrever este artigo.

Mas o que tem a ver uma coisa com a outra?


É que tenho assistido, na maioria das vezes revidado, a algumas brincadeiras feitas por amigos cultos que, acredito, sem terem pensado um pouco mais no tema, acabam fazendo postagens de “gozação”, principalmente pelo Facebook, e, talvez, a principal delas é chamar os sãopaulinos de bambi. Tenho revidado, não pelo fato de ser torcedor desse clube, não por considerar que isso me ofende pessoalmente (tenho minha sexualidade muito bem resolvida) ou ao grupo de torcedores, mas por considerar que se trata de gesto que, socialmente, alimenta discórdias e violência. Explico.

Toda forma de estigmatizar é reduzir o indivíduo a integrante de determinado grupo e, a partir daí, pelos mais diversos motivos, justificar a agressão contra um ou outro. Homossexuais, mulheres, negros, nordestinos, torcedores de clube, têm sido agredidos diariamente por esse mesmo princípio: esquece-se sua condição de humano, de indivíduo sujeito a sua condição de nascença e/ou livre arbítrio e começa este a ser considerado apenas como integrante de indesejável grupo, com defeitos congênitos, portanto, dentro dessa forma de pensar, devem ser eliminados.


Então, consideramos “brincadeirinhas” mais estamos alimentando (e estamos em 2014) esses mesmos estigmas arcaicos e preconceituosos no inconsciente coletivo de uma sociedade já hipócrita por natureza (a brasileira). Como exemplo, tomemos os casos recentes contra os jogadores negros chamados por “macaco”. Ora bolas, então, vamos justificar como “brincadeirinha”, ou então, que “que mal tem nisso?”. Mas são nesses pequenos detalhes que mora o perigo.

Portanto, reduz-se o negro a “macaco”, a um animal, logo, sujeito à violência, à agressão, a lhe ser negado um emprego ainda que o candidato mais qualificado etc. e etc. O mesmo raciocínio ao se considerar todo homossexual como sãopaulino-bambi (assim justifico minha agressão contra esse grupo). Quanto mais reduzo, mais facilmente me agrupo, identifico e ataco. 

Além de ser crime, todo aquele que chama um negro de “macaco”, ainda que seja efetivamente branco, esquece-se de que, segundo Darwin, todos somos descendentes de macacos e, com certeza, este energúmeno está muito mais próximo do “macaco” do que aquele a quem ele se dirige.


Homossexuais são homens livres que torcem pelo time que quiserem, têm livre arbítrio. Por favor, não os reduza a objetos, à sua preferência sexual, não os condicione a este ou aquele time, não os discrimine, ainda que de forma despretensiosa, “foi apenas uma brincadeirinha”. Por favor, não ajude a alimentar a discórdia e a violência contra esses grupos considerados minoritários.

Era a minha mensagem para hoje e, por favor, pense um pouco mais sobre o assunto.




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